O dia 25 de março é um marco na história da Capital e do Estado, relembrando lutas de líderes contra o racismo e abolicionistas, especialmente figuras como Chico da Matilde, o Dragão do Mar. O momento, como destaca o coordenador do Escritório de Direitos Humanos Dom Aloísio Lorscheider, Marcus Giovanne, evidencia os desafios da sociedade na efetivação de direitos da população negra, que representa 56% dos brasileiros (Pardos – 45,3% e Pretos – 10,6% – Censo IBGE 2022).
“O racismo não acabou. Não é algo concluído. A luta antirracista é contínua. A minha tese de doutorado é uma tese um pouco amarga, porque mostra que o racismo está longe de terminar, e o racismo está entranhado nas estruturas de Estado, nas estruturas de poder, porque o racismo também é uma estratégia de poder, é uma estratégia que coloca pessoas com meu biótipo num patamar inferior e em detrimento de pessoas com o biótipo distinto do meu, brancos, num patamar maior”, ressalta Marcus Giovanni. Segundo ele, é preciso que as pessoas tenha oportunidades de ocupar os mesmos espaço, independente da raça ou cor, e que o caminho começa pelos poder público e espaços de fala.
Racismo, que Marcus Giovani, diz sentir no seu cotidiano como homem, negro, advogado e coordenador do EDHAL, mas que para quebrar isso é preciso acabar com a segregação. Realidade que é ainda mais dura para a população negra da periferia. “Muitas vezes, sinto o desconforto de quem chega ao Escritório e se surpreende ao me ver como coordenador – um homem negro, de dreadlocks, traços marcantes da minha raça. É uma luta diária: saímos de casa preparados para enfrentar o racismo”.
A temática de combate ao racismo e de acesso aos direitos é uma pauta constante do EDHAL. Marcus Giovanni reforça que a procura por ajuda do escritório tem se consolidado na política de igualdade racial. Em Fortaleza, a população negra representa 69,8% (Parda 62,6% e Preta 7,2%), e que a segregação na cidade é algo real. “São muitos desafios. Aqui no Escritório, de diuturnamente, a gente recebe denúncias de racismo. E quando a gente fala de racismo, a gente imagina que o racismo tem uma relação com a injúria racial mas não é isso. O racismo é uma estrutura de poder, uma estrutura política que segrega pessoas, e essa segregação é motivada pela raça, pela ideia de raça”.
Dos casos que chegam no EDHAL cerca de 80% são demandas da população afrodescendente com violação de direitos, além de denuncias como injuria racial. Para Marcus Giovanni a data também remete uma reflexão sobre a cidade e suas políticas. “Essa data é importante de ser lembrada, de ser revivida e de a gente fazer uma reflexão. Primeiro, que cidade a gente quer? A gente quer uma cidade racialmente diversa. E segundo, Fortaleza é uma cidade racialmente justa? Onde pessoas brancas e negras têm acesso aos mesmos direitos? É uma questão para a gente pensar”.
Ao comemorar a Data Magna do Ceará, que lembra o pioneirismo do Estado em abolir a escravização em 1884, antes de qualquer outro local do Brasil, Marcus fala que o momento evidencia a necessidade urgente de combater o racismo, que vai muito além do preconceito.
No Ceará, esse debate tem particularidades históricas. Diferente de outras regiões do Brasil, nossa economia não dependia massivamente da mão de obra escravizada, pois era baseada no ciclo do gado – uma atividade menos dependente de trabalho cativo. Por isso, a abolição não causou o mesmo impacto econômico que em outras regiões do país, como relata Marcus Giovanni.
Figuras como Chico da Matilde, o Dragão do Mar, que desafiou a Coroa Portuguesa ao se recusar a transportar escravizados – são símbolos de resistência que precisam ser lembrados. O movimento liderado por ele junto aos outros jangadeiros, culminando na Greve dos Jangadeiros, sendo combustível para a abolição pioneira no país que viria em seguida.
Foto: Luciano Melo
Repórter: Adriana Albuquerque
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