Diante da manutenção da tarifa de importação de 10% imposta pelo governo dos Estados Unidos a produtos brasileiros, autoridades em Brasília passaram a tratar o tributo como um novo “custo fixo” para exportações ao mercado norte-americano. A avaliação é de que, na prática, a sobretaxa deve se consolidar como um piso permanente nas relações comerciais com Washington, o que levou o governo brasileiro a recalibrar sua abordagem nas negociações bilaterais.
A estratégia atual prioriza a busca por contrapartidas mais tangíveis, como a abertura de cotas para produtos industriais — especialmente aço e alumínio — em vez de insistir na eliminação da alíquota. Para negociadores envolvidos nas tratativas, o Brasil já opera sob o que classificam como uma “tarifa mínima”, diante da constatação de que até aliados históricos dos Estados Unidos, como o Reino Unido, não conseguiram reverter integralmente as medidas tarifárias.
O exemplo britânico é frequentemente citado por interlocutores do governo brasileiro: mesmo após extensos esforços diplomáticos, Londres obteve apenas a flexibilização parcial das barreiras, com a criação de cotas de importação, mas sem a suspensão da tarifa de 10%. O entendimento em Brasília é que o tratamento concedido ao Brasil já se equipara ao oferecido a outros parceiros estratégicos dos EUA, o que torna menos eficaz insistir em novas concessões.
“Se todos os países estão se esforçando para obter exatamente o que o Brasil já tem, então insistir em mais concessões não nos levará além do que já foi alcançado”, afirmou um funcionário brasileiro que participa das negociações.
As discussões surgem no contexto da medida anunciada em março pelo presidente Donald Trump, que impôs tarifa de 25% sobre a importação de aço e alumínio com o objetivo de proteger a indústria norte-americana. Desde então, o governo brasileiro criou um grupo de trabalho com autoridades americanas para tratar da questão e buscar alternativas.
As conversas são conduzidas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e pelo Itamaraty, com reuniões técnicas e videoconferências realizadas regularmente entre representantes dos dois países, em busca de soluções que preservem a competitividade das exportações brasileiras.