A quadra chuvosa de 2025 chegou ao fim no Ceará, revelando um cenário hídrico de extremos e contrastes. Com uma reserva total de 10,15 bilhões de metros cúbicos (m³), o estado alcançou 54,89% de sua capacidade, um número que esconde realidades bem distintas. De um lado, a alegria de açudes transbordando; do outro, a angústia de comunidades que ainda enfrentam a escassez severa.
Dos 157 açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), 26 estão sangrando e outros 36 operam acima de 90% da capacidade. O destaque mais simbólico desse cenário é, sem dúvida, o açude Orós, o segundo maior do Ceará. Após 14 longos anos de espera, o Orós voltou a sangrar em 26 de abril de 2025, impulsionado pelas chuvas concentradas na bacia do Alto Jaguaribe, onde o acúmulo hídrico ultrapassa os 90%. Essa sangria, que ocorreu quase na mesma data de 2011, é um marco histórico, garantindo a perenização do Rio Jaguaribe, a irrigação e a piscicultura.
Apesar da média de chuvas em 2025 ter ficado "dentro do esperado" pela Funceme (517,8 mm entre fevereiro e maio), a distribuição foi drasticamente desigual. Cerca de 60% do território cearense registrou volumes abaixo da média histórica, resultando em um aporte hídrico geral menor do que o observado em 2024. Fernando Santana, titular da Secretaria dos Recursos Hídricos do Ceará (SRH), destacou essa disparidade, afirmando que o estado não teve o acúmulo esperado.
Essa irregularidade nas precipitações criou bolsões de crise. Atualmente, 30 reservatórios estão abaixo de 30% da capacidade, e oito açudes se encontram em situação crítica, com seis em volume morto (menos de 5%).
A situação mais preocupante se concentra em Milhã e Pereiro. O açude Jatobá, em Milhã, opera a um preocupante 1% de sua capacidade, enquanto o Madeiro, no Vale do Jaguaribe, registra míseros 0,87%. Essas comunidades vivenciam o drama da seca na pele.
Em Milhã, a população já enfrentava um racionamento extremo em novembro de 2024, quando o Jatobá marcava apenas 6,7%. A adutora Patu, que costumava socorrer o município, estava sem condições de uso. O abastecimento é intercalado pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), limitando o acesso à água a poucos dias da semana. A cidade de Milhã recebeu apenas 507,7 mm de chuva, um volume insuficiente para recuperar o reservatório.
Já o açude Madeiro, em Pereiro, não sangra há 20 anos. Construído em 1999, seu melhor índice foi em 2009, com 64,70%. A primeira vez que o Madeiro "secou" foi em março de 2014, e desde então, seu volume nunca ultrapassou os 5%. Apesar de fazer parte da bacia do Médio Jaguaribe, a mesma do açude Castanhão, o Madeiro acumula apenas 30% da capacidade hídrica, evidenciando a concentração das chuvas em outras áreas da bacia. Em Pereiro, as precipitações somaram apenas 438 mm.
Fernando Santana citou Milhã, assim como Ipaumirim, Baixio e Umari, como municípios que já entram em situação crítica, para os quais o governo busca medidas paliativas.
“Temos obras que garantem, hoje, segurança hídrica à população. Estamos correndo pra que finalizem, como o Cinturão das Águas, no Cariri; o Malha D’água, no Sertão Central, que capta água do Banabuiú e leva água para 9 municípios; o Ramal do Salgado; e a duplicação do Eixão das Águas, trazendo água do Castanhão”, acrescentou Santana.
Apesar das dificuldades localizadas, o açude Castanhão, o maior do Ceará e estratégico para o abastecimento de diversas regiões, segue como um pilar da segurança hídrica do estado. Embora o texto não especifique seu percentual atual, sua importância é reiterada nas falas do secretário.
Para mitigar os efeitos da seca e garantir o futuro do abastecimento, o governo do Ceará segue investindo pesado em grandes obras de infraestrutura. Entre elas, destacam-se o Cinturão das Águas no Cariri, o Malha D'água no Sertão Central (que capta água do Banabuiú e leva para 9 municípios), o Ramal do Salgado e a duplicação do Eixão das Águas, que trará ainda mais água do Castanhão. Essas iniciativas são cruciais para interligar bacias e proporcionar maior resiliência hídrica ao estado.
A quadra chuvosa de 2025, portanto, deixa uma mensagem clara: embora haja motivos para celebrar em algumas regiões com reservatórios cheios, a luta contra a seca persiste em outras. A gestão inteligente dos recursos hídricos e o avanço das obras de infraestrutura são indispensáveis para equilibrar a balança e garantir que a água, tão vital, chegue a todos os cearenses.
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