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Briga por Templo em Caucaia Gera Conflito Judicial e Físico em Igreja Evangélica

Disputa de sete anos pela liderança da Assembleia de Deus em Iparana escala com acusações de invasão e agressão entre pastores e seus seguidores.

30/06/2025 às 10h50
Por: Frank Ferreira
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Comunidade de Iparana, em Caucaia, vivencia troca de acusações desde 2018. Foto: Thiago Gadelha
Comunidade de Iparana, em Caucaia, vivencia troca de acusações desde 2018. Foto: Thiago Gadelha

Há sete anos, uma contenda religiosa e judicial vem tumultuando uma igreja evangélica com cerca de 2.200 membros no bairro de Iparana, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. Dois pastores, Gleidailson Azevedo e Luiz Carlos Nascimento Barros, disputam a liderança da Assembleia de Deus Templo Central Independente (TCI), em um impasse que já envolveu a Polícia Militar e resultou em confronto físico.

A tensão atingiu um novo pico na última segunda-feira, 23 de junho, quando policiais militares foram chamados para intervir em uma confusão em frente à igreja. Segundo o pastor Gleidailson Azevedo, que atualmente preside a congregação, um grupo ligado ao antigo pastor, Luiz Carlos Nascimento Barros, tentou arrombar e invadir o local.

Porém, Luiz Carlos alega ser vítima de uma manobra para afastá-lo, afirmando que uma sentença judicial de 2020 autoriza seu retorno como presidente do templo, mas que ele está sendo impedido de entrar. Gleidailson, por sua vez, rebate, sustentando que Luiz Carlos foi expulso pela comunidade em 2017 devido a uma "falta gravíssima" envolvendo adultério e uso de álcool e drogas, tornando-o rejeitado pelos membros. O confronto escalou para uma briga física, na qual um pastor ligado ao TCI foi agredido com um soco no rosto.

Foto da plenária de uma igreja evangélica iluminada, com fileiras de cadeiras acolchoadas vermelhas, um púlpito transparente e o nome Jesus prateado numa parede branca

Legenda: Igreja congrega cerca de 2.200 pessoas de Iparana, área litorânea de Caucaia
Foto: Thiago Gadelha

 

Batalha Legal e Separação de Convenções

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que a Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) investiga o caso de lesão corporal, que foi notificado por meio de Boletins de Ocorrências (BOs) e está sob a responsabilidade do 31º Distrito Policial.

Nas redes sociais, a direção da TCI Iparana comunicou aos fiéis que "algumas pessoas têm tentado, de forma indevida, tomar à força os nossos templos, sem qualquer autorização da própria igreja". A defesa do pastor Luiz Carlos, contudo, nega qualquer tentativa de invasão ou violência, argumentando que se tratou de um "exercício legítimo de um direito reconhecido pela Justiça".

A disputa judicial remonta a 2017, quando Luiz Carlos foi afastado temporariamente da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Iparana (IEADI), então vinculada à Convenção das Assembleias de Deus do Estado do Ceará (Conadec). Luiz Carlos considerou o afastamento arbitrário e ilegal. Gleidailson foi nomeado interventor e, em 2018, empossado presidente. Em 2020, uma liminar judicial determinou a recondução de Luiz Carlos, alegando ilegalidade em seu afastamento.

Após a sentença, a IEADI, como igreja autônoma, apelou da decisão. Gleidailson, alegando que a Conadec apoiou o retorno de Luiz Carlos, solicitou o desligamento e ajudou a fundar a Convenção de Ministros Independentes das Assembleias de Deus do Ceará (Comiadeceb), alterando o nome da igreja para Templo Central Independente (TCI) de Iparana. Essa ação resultou na sua exclusão da Conadec. O advogado de Luiz Carlos acusa Gleidailson de ter se "apropriado indevidamente de todo o patrimônio da igreja" para se manter no poder.

Foto da fachada da Assembleia de Deus Templo Central de Iparana, em azulejos brancos com quatro fileiras verticais azuis e placa de identificação. No pátio em frente, há quatro motos estacionadas

Legenda: Templo teve nome fantasia e convenção alterados após confusão na Justiça
Foto: Thiago Gadelha

 

Acusações, Intimidação e Recurso ao STJ

No decorrer do processo, a defesa de Gleidailson tentou alegar a suspeição do juiz responsável pelo caso, mas a hipótese foi descartada pelo Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE). A defesa de Luiz Carlos reitera que a decisão judicial de 2020 é válida e deve ser cumprida.

A batalha nos autos continua com acusações mútuas de forja de documentos e manobras processuais. Gleidailson invoca a separação entre Estado e Religião, defendendo a autonomia das igrejas. Já a defesa de Luiz Carlos acusa Gleidailson de "descumprir as determinações judiciais" e de criar "confusão" e "desordem".

Na última quarta-feira, 25 de junho, a IEADI protocolou um recurso especial para ser analisado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), buscando anular o edital de posse de Luiz Carlos de 2020. Enquanto isso, a comunidade de Iparana permanece em alerta. Gleidailson relatou a necessidade de contratar seguranças para vigiar o local e a presença de carros suspeitos na região, denunciando gestos de intimidação. A defesa de Luiz Carlos, por sua vez, afirma que o tumulto foi iniciado pelos membros ligados a Gleidailson, descrevendo a conduta do atual presidente como "reiteradamente desleal e desrespeitosa".

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