Em meio às 'mansões do tráfico' na Rocinha, demolidas nas últimas semanas, pelo menos 29 cearenses com mandados de prisão em aberto e membros do Comando Vermelho (CV) se refugiam e fazem da comunidade localizada na zona sul do Rio de Janeiro seu lar.
Três homens que integram a lista de foragidos são apontados pelas autoridades do Ceará como lideranças da facção carioca. José Mário Pires Magalhães, o 'Zé Mário', ou 'ZM', também conhecido como 01 do CV no Ceará; Anastácio Paiva Pereira, 'Doze', 'Paizão' ou 'Paulinho Maluco'; e Manoel Messias Domingos Neto, 'o Camuflado', levam uma 'vida de luxo' na Rocinha, comandando à distância o tráfico de drogas e armas.
O diretor do Departamento de Polícia Judiciária do Interior Norte (DPI-Norte), da Polícia Civil do Ceará (PCCE), delegado Marcos Aurélio, disse não ter dúvidas que o número de traficantes cearenses escondidos na Rocinha "é ainda bem maior".
"São muitos elementos do Estado do Ceará com o mandado de prisão e que estão morando na Rocinha Aquelas próprias imagens demonstram isso tudo, uma quantidade grande de pessoas que estavam fugindo", segundo o delegado, se referindo às imagens feitas por um drone que mostram centenas de homens fortemente armados escapando pela mata.
Nós sabemos que naquele local há uma aglomeração de bandidos. Esses bandidos que estão lá, na hora que eles saem da Rocinha, nós estamos rastreando todos os passos deles, nós conseguimos prender"
O coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público do Ceará (MPCE), promotor de Justiça Adriano Saraiva, destaca que a investigação que resultou nas demolições das casas de luxo dos três líderes, juntas avaliadas em R$ 6 milhões, começou ainda no ano de 2018.
"Com o trabalho feito de identificação de membros de facção criminosa que estavam saindo do estado do Ceará, se homiziando no Rio de Janeiro, em busca de proteção, isso foi identificado", disse o promotor.
Os investigadores perceberam um aumento dos Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) na região Norte do Estado e com o decorrer da apuração se depararam com homicidas de Santa Quitéria e de Varjota morando na Rocinha.
Em outros estados pela Polícia Civil do Ceará, em 2024 e 2025.
José Mário Pires Magalhães seria responsável por uma série de mortes em Novo Oriente, Canindé e Caridade. 'ZM' segue na lista dos mais procurados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), em que consta a observação: "considerado perigoso".
Em coletiva de imprensa, MPCE e PCCE disseram que era da casa de 'ZM' que partia um túnel usado pelos traficantes para chegarem até a mata e fugirem
O 'Doze' também ostenta uma extensa ficha criminal, exercendo liderança do CV na área do Sertão Central do Ceará.
Conforme denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE), em um dos processos que ele responde, 'Doze' "exerce comando da organização criminosa CV em diversos municípios cearenses, como Santa Quitéria, Hidrolândia, Varjota, Reriutaba, Ipu, Ipueira e Guaraciaba do Norte".
Já Manoel Messias, o 'Camuflado', responde a processos por integrar organização criminosa, porte ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas. Em 2021, ele chegou a ser preso em Sobral em posse de arma de fogo, munições e drogas. Quando saiu da cadeia foi para o Rio de Janeiro.
A demolição de mansões de luxo de cearenses na Rocinha pode ser replicada em imóveis de criminosos no Ceará, segundo Adriano Saraiva, que explicou que as autoridades conseguiram autorização para demolir as casas via administrativa, junto à Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro.
"Nesse modelo, a gente vai também trabalhar e replicar aqui no estado do Ceará. É importante o Estado mostrar força. A gente vai tentar replicar esse mesmo modelo, de maneira célere, aqui no Estado do Ceará e tentar demolir outros imóveis lá no Rio", disse o promotor.
O MPCE detalha que as construções de luxo ficavam localizadas na região da Dionéia. Com uma área de aproximadamente 2 mil metros quadrados, os imóveis variavam entre dois e sete andares, com alto padrão de acabamento, incluindo piscina e área gourmet. Também contavam com passagem secreta para uma escada que dava acesso a uma região de mata, para tentar facilitar fugas.
“Para os criminosos que buscam no Rio de Janeiro um refúgio vindo de outros estados: esta cidade não é mais um porto seguro. Cada esconderijo, por mais luxuoso que seja, será derrubado. A tolerância para com o invasor criminoso aqui se esgotou; apenas a face rigorosa da lei os aguarda”, informou a equipe do Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente (Gaema/MPRJ).
Mín. 24° Máx. 28°