O ato em memória dos episódios de 8 de janeiro de 2023, que promete reforçar a importância da democracia e o repúdio aos ataques aos poderes da República, suscita reflexões mais profundas sobre seu real propósito. Embora seja legítimo e necessário lembrar eventos marcantes para a história do país, é preciso questionar se tais cerimônias estão de fato alinhadas com os interesses da nação ou se servem como palco político para reforçar narrativas específicas.
Ao centralizar o protagonismo em figuras políticas, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em solenidades restritas e marcadas por simbolismos, o evento parece caminhar na tênue linha entre a memória coletiva e a instrumentalização política. A entrega das obras de arte restauradas, embora relevante em termos culturais, pode desviar o foco do que deveria ser a principal mensagem: a necessidade de fortalecer as instituições democráticas e promover a união nacional.
Além disso, a escolha de um ambiente tão exclusivo para as primeiras cerimônias levanta dúvidas sobre a inclusão da sociedade no debate sobre os desafios que o país enfrenta. Afinal, como construir uma democracia sólida e inclusiva se os atos em sua defesa se tornam elitistas e desconectados das reais necessidades da população?
O 8 de janeiro foi um momento de crise que expôs vulnerabilidades na estrutura democrática brasileira. Porém, lembrar-se dele apenas com solenidades simbólicas corre o risco de transformar um episódio trágico em uma narrativa política polarizadora, ao invés de um aprendizado coletivo. É essencial que as homenagens não sejam apenas sobre relembrar o passado, mas também sobre construir um futuro onde atos como os de 8 de janeiro sejam inimagináveis.
Se a democracia é o foco, então ela deve ser exercida em sua essência, com debates amplos, participativos e que transcendam a esfera do Palácio do Planalto. Sem isso, o ato corre o risco de ser visto mais como uma vitrine política do que um verdadeiro compromisso com os valores democráticos.
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