No ano de 2024, 19 agentes de Segurança pública do Ceará, entre os que estavam na ativa, na reserva e ex-policiais foram assasinados entre janeiro e dezembro do ano passado.
No Grande Pirambu, em Fortaleza, do total, 5 foram assassinados na região. Dentres os 19 agentes, apenas 1 foi morto pela esposa, o cabo Wagner Sandys, caso investigado como motivação conjugal, os demais, foram vítimas da violência urbana em assaltos ou emboscadas ou enquanto estavam em serviço. Dos 18 assassinados neste contexto de violência, 15 eram agentes da Ativa, já os outros três haviam sido expulsos os últimos anos ou estavam na reserva da Polícia Militar.
O presidente da Associação de Profissionais de Segurança do Ceará (APS), Cleyber Araújo, imputa o número de mortos à atuação de facções criminosas no estado. "O estado fechou os olhos, não fortaleceu a Polícia Civil, que é quem de fato tem uma competência maior de combater as facções criminosas, já que elas são organizadas", reitera. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Ceará (SSPDS) informou que existe uma delegacia especializada em investigar crimes dolosos contra a vida de agentes de segurança pública em Fortaleza.
A pasta contabilizou um total de 16 policiais militares mortos em 2024, número que não inclui os três militares mortos que estavam ou na reserva ou que foram expulsos da corporação. "A pasta ressalta que emprega todos os recursos disponíveis nas Forças de Segurança do Estado para capturar os suspeitos de participação nos casos de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI), bem como elucidar as circunstâncias dos crimes", disse a secretaria. A pasta destacou que, desde 2020, foi formada pelo Comando da Polícia Militar uma capacitação para os profissionais da segurança com orientações e protocolos de sobrevivência policial em situações de riscos durante os períodos de folga.
Policiais mortos no Ceará de janeiro a dezembro de 2024:
Em 2025, a primeira morte de um policial foi registrada no dia 15 de janeiro. Foi o subtenente Francisco Ricardo Silveira Neto, de 51 anos, que atuava no Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur). Ele foi atacado na rua por criminosos armados e morto com dezenas de tiros.
Violência na região do Grande Pirambu
Em julho de 2024, um grupo de policiais militares foi preso por suspeita de atuar como uma milícia na região do Grande Pirambu. Eles eram suspeitos de crimes como homicídios, extorsões, tráfico de drogas e comércio ilegal de arma de fogo .
Conforme a Controladoria Geral de Disciplina (CGD), a atuação criminosa desses policiais os teria colocado em rota de colisão com outros criminosos da região, o que teria acarretado na morte de outros policiais, não necessariamente envolvidos no grupo.
O órgão destaca os meses de fevereiro e maio de 2024 como período de atuação do grupo criminoso composto pelos policiais - justamente o período no qual foram assassinados os soldados Bruno Lopes Marques e José Heliomar Adriano, este último investigado pela CGD.
Em julho, Antônio Valério, policial expulso da corporação, também foi morto em uma via pública da região. Em setembro, o subtenente Francisco Nazareno foi assassinado dentro de casa. Em outubro, o ex-cabo José Sebastião também foi morto em uma rua do Grande Pirambu.
Conforme Cleyber Araújo, presidente da APS, há um número crescente de policiais moradores do Grande Pirambu que se sentem ameaçados.
"Uma grande quantidade de policiais moram lá desde a infância e resistem em sair", diz Cleyber. "Um cidadão quando é expulso de casa, existe um sentimento de revolta lá. Imagina quando é um agente de segurança pública".
Cleyber afirma não acreditar que exista um grupo armado de policiais atuando como criminosos no Grande Pirambu, a despeito das prisões por formação de milícia na região e das investigações apontaram para a existência destes grupos.
"Lá está uma briga muito grande. Quem domina a região lá é o Comando Vermelho", afirma. "Eu não acredito que tenha milícia. Acho que eles estão sendo se reunindo para se defender".
O que diz a Secretaria de Segurança?
Por meio de nota, a SSPDS afirmou que já foram concluídas 10 investigações das 16 abertas pelos assassinatos dos militares, e outras seis seguem em andamento.
Confira a nota na íntegra:
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS/CE) informa que os crimes contra a vida de servidores das Forças de Segurança do Ceará ocorridos em Fortaleza são investigados pela 11ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE), unidade especializada em investigar crimes dolosos contra a vida e latrocínios praticados em desfavor de agentes de segurança pública do Estado. Já as ocorrências em outras cidades ficam sob a responsabilidade das delegacias da região. Vale ressaltar que o índice de resolutividade da 11ª Delegacia do DHPP é de 76.9%.
A SSPDS e suas vinculadas Polícia Civil e Polícia Militar do Ceará (PMCE) reiteram ainda que não medem esforços para elucidar os casos, bem como identificar, localizar e prender os suspeitos das ações criminosas. Em 2024, de janeiro a dezembro, ocorreram 16 Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) contra policiais militares, sendo que dez das vítimas estavam de folga e um afastado.
Desse total, dez casos ficaram sob responsabilidade da 11ª Delegacia do DHPP. Das dez investigações, oito foram concluídas e remetidas ao Poder Judiciário com prisões. As outras duas seguem em investigação. Dos outros seis casos, dois foram concluídos e remetidos à Justiça com indiciamentos e quatro estão com investigações em andamento.
Ainda a respeito dos dados, a SSPDS esclarece que eles são processados pela Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança (Supesp), instituição vinculada à Secretaria. A SSPDS/CE destaca ainda que os profissionais da segurança são capacitados acerca de protocolos de sobrevivência policial em situações de riscos durante os períodos de folga.
A iniciativa, denominada de Instruções de Táticas Individuais (ITIs), foi instituída em 2020 pelo comando-geral da PMCE. A capacitação tem o objetivo de orientar os PMs sobre como devem agir em ações preventivas, em procedimentos ao sair de casa, no manuseio de armas de fogo e algemas, posições táticas, além de orientações básicas e treinamentos voltados para técnicas de sobrevivência policial em veículos próprios e em deslocamento a pé.
A pasta ressalta que emprega todos os recursos disponíveis nas Forças de Segurança do Estado para capturar os suspeitos de participação nos casos de CVLI, bem como elucidar as circunstâncias dos crimes. A população também pode contribuir com as investigações repassando informações que auxiliem os trabalhos policiais.
As denúncias podem ser feitas para o número 181, o Disque-Denúncia da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), ou para o (85) 3101-0181, que é o número de WhatsApp, por onde podem ser encaminhadas as informações. As denúncias podem ser feitas ainda pelo (85) 3257-4807, do DHPP. O sigilo e o anonimato são garantidos.
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