Lais Souza completou nesta segunda-feira (10/02) 11 anos de uma nova vida. No dia 27 de janeiro de 2014, às vésperas de competir no esqui aéreo das Olimpíadas de Inverno, a ex-ginasta sofreu um acidente durante um treino nos Estados Unidos. Aos 25 anos ficou tetraplégica. Hoje, aos 36, ela faz um relato emocionante sobre sua luta diária e sobre "uma nova oportunidade de viver".
Lá fora, a vida segue seu curso normalmente; o barulho dos carros e os passos apressados preenchem o ar daquela segunda-feira gelada; E aqui dentro eu lutando pela minha. Só se ouvia o apitar das máquinas que respiravam por mim; E lá fora jornalistas de todo o mundo disputando espaço para conseguir a melhor entrevista; E aqui dentro um silêncio ensurdecedor e várias perguntas sem resposta. O que fazer depois que recebemos um diagnóstico de tetraplegia? Quem vai cuidar de mim? Por que comigo? Por que não me restou nenhum movimento? Pelo menos de um dedinho! Hoje, dia 27 de janeiro de 2025, faz 11 anos do meu acidente, e ainda carrego muitas perguntas que talvez jamais tenham respostas. Mas se tem algo que aprendi ao longo desses anos, é que ninguém enfrenta uma luta como essa sozinho. Em toda minha vida eu sempre gostei de fazer favor e não de receber, achava que ser forte significava não depender de ninguém. Mas aprendi, na marra, que a força maior está na capacidade de aceitar ajuda, de se permitir ser cuidado e, principalmente, de reconhecer o valor da rede de apoio que nos cerca. Quando falamos de pessoas com deficiência, a rede de apoio vai muito além de um círculo de amigos ou familiares. Ela é um pilar fundamental para sobreviver, se adaptar e, eventualmente, florescer. É a família que se reinventa junto com você, aprendendo a te ajudar e a respeitar sua autonomia. É o fisioterapeuta que te encoraja a cada pequeno progresso. É o amigo que ouve o desabafo sem julgamento. É o motorista que entende que um minuto a mais para embarcar faz diferença. Essa rede é feita principalmente pelas próprias pessoas com deficiência. Existem laços poderosos que surgem quando aqueles que vivem experiências semelhantes se unem para compartilhar vivências, enfrentar desafios e oferecer suporte. A gente se une para responder aquelas incertezas da sala fria de um hospital. Ao lembrar desses 11 anos de luta e de uma nova oportunidade de viver, também celebro quem esteve e ainda está ao meu lado. E lá fora, a vida continuou. Na verdade, ela nunca parou... mas hoje eu sei que, aqui dentro, ela também acontece, cheia de propósito e esperança - postou Lais.
Com duas participações em Olimpíadas no currículo, Lais foi integrante da seleção brasileira de ginástica artística de 2001 a 2012. Medalhista em edições da Copa do Mundo de Ginástica, a paulista de Ribeirão Preto obteve o seu maior feito com um quarto lugar no salto durante a primeira fase do Campeonato Mundial de Aarhus, na Dinamarca, em 2006.
Em 2013, a ginasta começou a treinar esqui aéreo, tendo sido medalha de bronze no Campeonato Nacional dos Estados Unidos, em Park City. Após o acidente, Lais passou a dedicar-se às artes plásticas, além de dar palestras e participar de eventos.
Mín. 24° Máx. 28°