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Cidade gaúcha é movida ao combustível mais poluente do mundo: 'Não somos contra o planeta'

De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), o carvão é o combustível fóssil que mais emite gases do efeito estufa.

Publicada em 12/07/24 às 09:53h - 44 visualizações

Marcos Carneiro / Rede Mult de Comunicação


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Cidade gaúcha é movida ao combustível mais poluente do mundo: 'Não somos contra o planeta'
Usina termelétrica movida a carvão mineral Candiota III, no Rio Grande do Sul.  (Foto: CGT / Eletrosul / Rede Mult de Comunicação)
A pequena Candiota, no Rio Grande do Sul, tem sua economia e vida social centradas nas minas e usinas movidas a carvão mineral, que são responsáveis por altas emissões de gases do efeito estufa.

"Não somos más pessoas por não querer que fechem a usina e nem defendemos que o planeta se exploda. Não somos contra o planeta", afirma Gil Melo, uma empresária e cozinheira uruguaio-brasileira de 34 anos, ao defender o carvão mineral, um recurso considerado indefensável por parte da comunidade científica.

De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), o carvão é o combustível fóssil que mais emite gases do efeito estufa e é visto como um dos principais responsáveis pelas mudanças climáticas, cujos impactos foram recentemente evidentes nas chuvas extremas que atingiram o Rio Grande do Sul.

Gil Melo vive em Candiota, um município com 10,7 mil habitantes, localizado a quase 400 km de Porto Alegre. Ela menciona que seu restaurante reflete a economia local, que depende do carvão. "Cerca de 80% da nossa economia gira em torno do carvão mineral", declara o prefeito Luiz Carlos Folador (MDB) à BBC News Brasil.

Candiota é lar da maior mina de carvão mineral a céu aberto do Brasil, com reservas estimadas em 1 bilhão de toneladas, e abriga também duas usinas termelétricas que utilizam esse combustível fóssil.

Candiota e seu Futuro Incerto com o Carvão Mineral

Por décadas, as reservas de Candiota foram motivo de orgulho e impulsionaram a economia local. Segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), essas reservas seriam suficientes para abastecer o Brasil por aproximadamente cem anos. No entanto, especialistas alertam que o mundo não pode suportar mais um século utilizando carvão mineral, e os moradores de Candiota parecem cientes desse fato.

Nos últimos anos, a cidade tem enfrentado um clima de incerteza devido à pressão global para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) recomendam cortes drásticos nas emissões. Em maio de 2022, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu que o mundo abandone seu "vício" em combustíveis fósseis, começando pelo carvão, para limitar o aumento da temperatura global em 1,5ºC até 2100, conforme estabelecido pelo Acordo de Paris.

O Brasil já se comprometeu a zerar suas emissões líquidas até 2050, que é o saldo entre o que é emitido e o que é reabsorvido pela natureza. Em Candiota, há temor de que a transição energética chegue antes que a cidade encontre uma nova fonte de sustento.

Recentemente, esse receio foi intensificado após as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, resultando na morte de mais de 170 pessoas e sendo considerado o maior desastre climático do Brasil. Os moradores temem que a economia do carvão mineral se torne um "bode expiatório" da tragédia gaúcha, acelerando iniciativas para reduzir a atividade carbonífera na região.

Riqueza Proveniente do Carvão

A história de Candiota está intimamente ligada ao carvão mineral. Desde o período imperial, a região era reconhecida por suas reservas, que eram exploradas para movimentar antigas forjas. Naquela época, a área fazia parte do município de Bagé. A primeira usina termelétrica movida a carvão foi instalada em 1961.

Hoje, Candiota conta com duas usinas em operação: Candiota III e Pampa Sul. A primeira pertence ao grupo Âmbar Energia, da holding J&F, enquanto a segunda é de propriedade dos fundos de investimento Perfin e Starboard. Ambas, junto com as minas em funcionamento, são as principais fontes de emprego na cidade.

Juntas, as usinas geram 695 MW, correspondendo a 0,3% da capacidade instalada de geração elétrica do Brasil, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A indústria do carvão fez de Candiota um dos municípios mais prósperos do Rio Grande do Sul.

Em 2021, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita de Candiota foi de R$ 282 mil, de acordo com dados do IBGE, sendo o 20º maior do Brasil e o 3º no Rio Grande do Sul. Esse valor supera mais de seis vezes a média nacional, que é de R$ 42,2 mil. Estima-se que cerca de 5 mil dos 10,7 mil habitantes tenham empregos diretos ou indiretos relacionados à indústria do carvão, tendo crescido próximos aos canteiros de obras e instalações das usinas e minas da região.

Pelo menos três vezes ao dia, ônibus transportam centenas de trabalhadores de outras cidades para Candiota, onde atuam nas minas e usinas da região.

A viagem oferece uma paisagem quase bucólica, repleta de pequenas propriedades rurais típicas da Campanha Gaúcha.

O relevo é predominantemente plano, coberto por vegetação rasteira, com algumas plantações e criação de gado e ovelhas.

À beira da estrada, é possível avistar parreirais e plantações de oliveiras, além das chaminés de mais de 30 metros das duas usinas termelétricas.

Uma delas, a Candiota III, se destaca pelo formato que lembra usinas nucleares.

A cidade é composta por três núcleos distintos, alguns separados por quase 10 quilômetros.

As ruas são asfaltadas, as escolas municipais bem equipadas e os supermercados oferecem suprimentos para a população.

"Candiota é uma ilha em matéria de sustentação econômica", celebra Hermelindo Ferreira, ex-presidente do Sindicato dos Mineiros de Candiota.

Entretanto, essa prosperidade traz consigo controvérsias.

Um dos principais argumentos entre os moradores e defensores da indústria de carvão é que o impacto ambiental da produção de energia elétrica a partir do mineral é considerado pequeno em relação ao total das emissões de gases do efeito estufa no Brasil.

Dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), mantido pela organização não-governamental Observatório do Clima (OC), estimam que apenas 0,4% das emissões brutas do Brasil em 2022 tenham sido geradas pela produção de energia elétrica a partir do carvão mineral.

Segundo o SEEG, 74% das emissões de gases do efeito estufa no Brasil são originadas do desmatamento e da atividade agropecuária.

Adicionalmente, a eletricidade gerada a partir do carvão representa apenas 1,2% da capacidade elétrica total instalada no país, conforme informações da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia (MME).

Além das duas usinas no Rio Grande do Sul, existem térmicas a carvão em estados como Paraná, Santa Catarina, Ceará e Maranhão.

De acordo com a EPE, 89% da matriz elétrica do Brasil é composta por fontes renováveis, como energia hidrelétrica, eólica e solar.

"O Brasil já fez a sua transição energética", afirma Fernando Luiz Zancan, presidente da Associação Brasileira do Carbono Sustentável (ABCS), que representa os interesses de mineradoras e usinas termelétricas a carvão mineral. Até março deste ano, a entidade era conhecida como Associação Brasileira do Carvão Mineral.

"Sei que as coisas são urgentes, mas não vamos resolver o problema acabando com 1,5% da nossa matriz energética. Isso não resolve o problema do Brasil, do Rio Grande do Sul e nem do mundo", argumenta o sindicalista Hermelindo Ferreira.

Alguns dados, entretanto, indicam uma perspectiva diferente.

Conforme a EPE, a geração de eletricidade a partir do carvão é responsável por 48,6% das emissões de gases do efeito estufa provenientes de todas as fontes não-renováveis.

Esse percentual é ligeiramente inferior ao das emissões geradas pelo gás natural, que representam 50,4%. Além disso, a produção de energia em usinas a gás natural no Brasil é 4,5 vezes superior àquela gerada por usinas a carvão.

Pesquisas mostram que a situação em Candiota é ainda mais preocupante.

Durante dois anos seguidos, relatórios do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) indicaram que as duas usinas termelétricas da cidade são as mais ineficientes e as que mais emitem gases do efeito estufa por unidade de energia gerada em todo o Brasil.

"O carvão gera mais emissões, porque é preciso queimar uma grande quantidade para liberar a energia aprisionada, na comparação com, por exemplo, o gás natural", explica Felipe Barcellos, analista de projetos do IEMA, à BBC News Brasil. "Mas além disso, as usinas de lá são um pouco antigas e usam um carvão que é mais pobre energeticamente. Por gigawatts-hora gerados, ou seja, por cada unidade de eletricidade, as emissões pelo carvão são as maiores possíveis. Elas são bem acima das que temos em outras tecnologias."

Devido às altas emissões provenientes das usinas e suas minas, Candiota ocupa a 60ª posição no ranking do SEEG em termos de emissões de gases do efeito estufa no Brasil.

Essa posição é notável, considerando que o município, segundo o IBGE, é apenas o 2.868º mais populoso do país.

A Âmbar Energia, responsável pela usina Candiota III, não respondeu às perguntas enviadas pela BBC News Brasil.




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