A investigação do sequestro de Anic de Almeida Peixoto Herdy, 54 anos, revelou o envolvimento de um amigo da família, suspeito de utilizar o dinheiro do resgate para adquirir um carro e uma moto. As conclusões da polícia sobre o caso foram destacadas em uma reportagem veiculada pelo Fantástico, da TV Globo, neste domingo, 19. Após três meses, Anic permanece desaparecida.
As últimas imagens de Anic de Almeida Peixoto Herdy, de 54 anos, datam do dia 29 de fevereiro, em Petrópolis, na Região Serrana. Conforme as investigações, um amigo da família teria orquestrado o evento e adquirido uma caminhonete de R$ 500 mil no dia do pagamento milionário.
Às 11h08 da manhã, Anic chega ao estacionamento de um shopping em Petrópolis em um carro preto. Vinte minutos depois, é vista na praça de alimentação, sempre ao telefone. Mais tarde, segue por um corredor em direção à saída, atravessando a rua após passar por uma calçada. Após esse momento, Anic desaparece completamente.
O aviso do sequestro e a exigência de resgate chegaram por mensagem no telefone do marido no mesmo dia do desaparecimento, com diversas ameaças provenientes de um número de celular que era associado a Anic. Os supostos sequestradores solicitaram uma quantia significativa de resgate: R$ 4,6 milhões. A especificidade do valor chamou a atenção dos investigadores, revelando também o conhecimento dos criminosos sobre a situação financeira da família. Benjamin Cordeiro Herdy, de 78 anos, marido de Anic, é um dos herdeiros de um grupo que gerenciava universidades no Rio de Janeiro.
Envolvimento de Lourival ‘Gordo’
A troca de mensagens prosseguiu nos dias seguintes, revelando um detalhe adicional que suscitou suspeitas: em 1º de março, os supostos sequestradores instruíram Benjamin, marido de Anic, a recuperar o carro dela, deixado no shopping, e indicaram que ele solicitasse auxílio a um homem conhecido como Gordo. Este é um dos apelidos de Lourival Correa Netto Fadiga, também reconhecido como Fatica.
"O Lourival convencia todos. Todos acreditavam que ele era, sim, policial federal. Isso fazia com que ele tivesse confiança da família em todos os aspectos", afirma a delegada Cristiana Onorato Miguel.
Lourival acompanhou Benjamin durante todo o processo de negociação com os supostos sequestradores e ajudou a organizar a transação financeira para o pagamento do resgate.
O pagamento
Em seu depoimento, Benjamin relatou que, seguindo as orientações dos sequestradores, dirigiu-se a um shopping na Zona Oeste do Rio, onde sua esposa deveria ser libertada. Lourival, por sua vez, levou o dinheiro para o Terreirão, uma favela também na Zona Oeste, onde supostamente o deixou em uma lixeira. No entanto, Anic não apareceu.
Uma hora após a entrega do dinheiro, Benjamin recebeu uma mensagem, alegadamente escrita por Anic, que parecia mudar o rumo do caso: o sequestro teria sido uma farsa para fugir com um amante.
Dois dias depois, outra mensagem, também supostamente de Anic, foi enviada aos seus filhos. Nela, Anic afirmava ter deixado o Brasil, conhecido alguém e planejava passar o resto da vida com essa pessoa.
Desconfiando de que a mãe poderia não ter escrito a mensagem, a filha do casal gravou uma conversa com Benjamin e Lourival, querendo entender por que a polícia não havia sido informada. Não convencida, ela decidiu procurar as autoridades, mas já se passaram 14 dias desde o suposto sequestro.
Investigação
Com acesso aos telefones de todos os envolvidos e ao histórico de localização de cada um, a polícia começou a reconstruir os eventos e descobriu que o suposto sequestrador estava próximo à família o tempo todo.
"O Lourival acreditava que tinha feito o crime perfeito", afirma a delegada.
A investigação revelou que, no dia do pagamento do resgate em dinheiro vivo, Lourival não se dirigiu a uma favela com os R$ 680 mil. Na verdade, ele esteve em uma concessionária na Barra da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro, onde adquiriu uma caminhonete por R$ 500 mil e uma moto por R$ 30 mil. Foi ele também quem indicou a Benjamin as contas bancárias que deveriam receber o pagamento.
Além disso, Lourival comprou 950 celulares por US$ 153 mil, o equivalente a R$ 785 mil, destinados ao abastecimento da loja de produtos de informática de sua família.
A investigação também apontou a participação dos filhos de Lourival.
Prisões
Lourival foi preso em Teresópolis no dia 20 de março. Além dele, foram presos seus filhos e Rebecca Azevedo dos Santos, apontada como sua amante. Todos são réus por extorsão mediante sequestro.
A defesa de Lourival afirmou que ainda não foi formalmente notificada da acusação contra o cliente e que só irá se manifestar diante do juiz. Argumentaram que os fatos investigados são meramente especulativos e baseados em suposições.
O advogado dos filhos de Lourival disse estar trabalhando para esclarecer todos os pontos. Os advogados de Rebecca expressaram confiança na comprovação de sua inocência e manifestaram preocupação com a forma como a prisão foi decretada.
Nem Benjamin, nem os filhos de Anic aceitaram gravar entrevista para o Fantástico. O advogado da família falou em seu nome, afirmando que ainda mantêm esperanças de encontrá-la com vida.
Lourival era uma presença regular na vida da família de Benjamin e Anic por aproximadamente três anos. Ele foi introduzido por um enteado que estava em relacionamento com a filha do casal e começou a realizar pequenos serviços de informática. Alegando ser um policial federal, embora isso fosse uma mentira, Lourival conquistou a confiança do casal.
