Os policiais civis da DREOF (Delegacia de Repressão a Estelionato e Outras Fraudes) de Salvador ainda estão surpresos com a recusa do Departamento de Polícia Técnica da Bahia (DPT) em realizar a perícia em 14 DVDs e um pendrive que mostram imagens do repórter Marcelo Castro solicitando doações via Pix. O pedido de perícia foi encaminhado pelo DREOF ao DPT para confirmar a materialidade dos crimes.
O principal papel do DPT é produzir provas materiais por meio de perícias legais para elucidar crimes e identificar atos criminosos e seus responsáveis, auxiliando a justiça em benefício da sociedade.
Contudo, a recusa do DPT gerou estranhamento entre a unidade policial e o órgão vinculado à Secretaria de Segurança Pública. Um delegado consultado afirmou que a recusa do DPT em realizar as perícias constitui um crime de prevaricação: “Meus 20 anos de polícia nunca tinham visto isso antes. Qual é o interesse em proteger um repórter que cometeu furto qualificado contra a sociedade baiana?”, destacou.
As mídias e o pendrive foram enviados ao Ministério Público da Bahia (MPBA), onde passaram por identificação e transcrição do material. Durante a transcrição, foi confirmado que Marcelo Castro, ao divulgar a chave Pix, dizia: “Deixa eu passar logo o Pix de vocês aqui, é o [...].” Dessa forma, ele enganava a população, fazendo parecer que o Pix era destinado à pessoa necessitada, quando na verdade era para um dos membros de sua organização criminosa.
O repórter Marcelo Castro e o editor de TV Jamerson Oliveira desviaram valores de milhares de baianos destinados a ajudar pessoas carentes e com problemas de saúde.
O golpe era aplicado durante a exibição do programa Balanço Geral da Record Bahia, apresentado por José Eduardo, que noticiava casos de pessoas com dificuldades financeiras e de saúde.
Durante o programa ao vivo, Marcelo Castro entrevistava pessoas em situação de vulnerabilidade e pedia aos telespectadores que fizessem doações via Pix. Os golpistas aproveitavam o estado de extrema pobreza ou a doença crônica dos entrevistados. No entanto, os valores eram depositados nas contas dos integrantes do grupo criminoso, com a omissão da TV Record.
Após o programa, o dinheiro era dividido igualmente entre Castro e Jamerson, e uma parte era distribuída entre os demais membros da quadrilha, ficando, na maioria das vezes, apenas 10% com os verdadeiros destinatários. Aproximadamente R$ 600 mil em doações foram transferidos para as contas da quadrilha, sendo que apenas 25% do valor foi realmente direcionado para os necessitados.
Além disso, o relatório da Polícia Civil da Bahia revelou que a mãe da criança que faleceu devido ao câncer, a principal testemunha da investigação, recusou-se a depor com medo de ser assassinada, devido às relações pessoais de Marcelo Castro com policiais de diversas esferas.
O que chamou a atenção dos investigadores foram as grandes movimentações nas contas dos acusados, que somam mais de R$ 5 milhões, valores incompatíveis com os rendimentos legais dos acusados, que somados não chegam a 10 salários mínimos, e discrepantes do total das doações, que não ultrapassaram R$ 600 mil. As investigações devem agora se concentrar na origem dos R$ 5 milhões movimentados nas contas dos acusados, provenientes de lavagem de dinheiro.